
Um dos momentos mais aguardados pelo público nesta terceira edição do Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira, aconteceu no sábado (04/11): a entrega do Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano para a escritora mineira Conceição Evaristo. A noite foi aberta pelo diretor e curador do Flitabira, Afonso Borges, que recebeu o Presidente da União Brasileira dos Escritores – UBE, Ricardo Ramos Filho.

Ricardo destacou: “As lindas mãos pretas da enorme escritora que fala por sua gente, seus irmãos e seu povo. Essas mãos recebem o prêmio Juca Pato. Muito justo. Viva o Juca Pato, Viva a UBE, Viva o Flitabira, Viva a Conceição Evaristo!”. Na sequência, uma emocionante mensagem em vídeo do Padre Júlio Lancellotti, último vencedor do Troféu Juca Pato, foi transmitida: “Parabéns, minha irmã, por sua luta e pelo que você significa”.
Conceição Evaristo subiu ao palco para receber o Prêmio e conversar com a escritora Lívia Sant’Anna Vaze o escritor e curador do Flitabira Sérgio Abranches. Lívia abriu a mesa com um canto e comentou: “Hoje é sábado, dia das águas. Pra mim, Conceição é essa água que acolhe”. Na sequência, Conceição Evaristo deu início a um belo e emocionante discurso de agradecimento. “Eu estou profundamente emocionada. A poesia é o lugar da emoção. E a emoção sempre me habitou”. Em seguida, ela disse: “Agradeço esse prêmio, essa condecoração. Eu quero ser… eu não sei o que quero ser”. No que rendeu gritos entusiasmados do público: “Você já é!”
A escritora mineira relembrou cenas do cotidiano que marcaram a sua formação. “Talvez venha daí a origem da Escrevivência”. Ela concluiu: “A poesia me visitava e eu nem sabia”. Com muita emoção, Conceição Evaristo destacou a dificuldade da infância: “Eu preciso agradecer não aquele estado de pobreza, mas a possibilidade de transformar aquela pobreza em poesia. Não estou fazendo uma apologia da pobreza, que fique bem claro, pois a pobreza mata”.
O discurso da escritora prosseguiu: “O nosso futuro é ancestral. Meu avô, que nasceu na Lei do Ventre Livre, dizia que na sua família, um dia, teriam médicos e professores. Professores nós já temos”. Na sequência, ela dedicou o Troféu Juca Pato: “Eu queria oferecer a premiação às mulheres quilombolas que eu conheci no Quilombo Morro Santo Antônio e também àquelas do outro quilombo da cidade que eu ainda não conheci. Esse prêmio não é meu, é nosso.”
Dona Rosinha, do Quilombo Morro Santo Antônio, subiu ao palco para celebrar Conceição Evaristo e agradecê-la pela visita à comunidade, em um momento de grande emoção. Conceição destacou: “O exercício da escrita tem que ser visto como um direito de todos nós. A Dona Rosinha, por exemplo, tem uma infinidade de escritos, cartas, poemas.”
Na sequência, mais um momento onde a emoção transbordou: os instrumentistas Marco Lobo, Fabrício Conde, Marcos Assunção e Ivan Vilela subiram ao palco, ao lado da escritora Eliana Alves Cruz, que cantou versos em homenagem à escritora e a convidou – além de todo o público presente – a dançar.

Conceição Evaristo citou Carlos Drummond de Andrade, poeta símbolo da cidade de Itabira: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo. Acho que esse é um sentimento comum às pessoas que escrevem”.
O Flitabira celebra a obra de uma das maiores escritoras da história da literatura brasileira e da literatura mundial. Viva, Conceição Evaristo e sua obra!